Nesse dia em que não se celebra missa, tem-se a adoração à Santa Cruz. Tradicionalmente, durante a adoração cantam-se os chamados "impropérios". A palavra "improperia" quer dizer repreensões, reprimendas. É Jesus quem exorta os homens pela falta de amor.
A parte mais importante é o chamado Trisagion, ou seja, a tripla invocação de Deus: "Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal". Esta antífona é por muitos conhecida, pois faz parte do terço da Divina Misericórdia, de Santa Faustina Kowalska, porém, ela é muito mais antiga. Provavelmente remonta à antiguidade da Igreja, quiçá, à Era Apostólica.
O Trisagion, interessante frisar, está ligado à Paixão de Cristo desde o início. Existe uma tradição da Igreja Copta (da Etiópia), que afirma ter sido este hino composto por Nicodemos, o qual juntamente como José de Arimateia, enterrou o Senhor (conf. Jo 19,39) e, assim, nesse momento, olhando para o corpo de Jesus Cristo, ele teria dito "Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, tende piedade de nós".
Esta tripla invocação é a resposta do povo aos impropérios, mas o que eles são? Os "improperium" estão presentes na liturgia desde o nono século e consistem no mistério do povo judeu que rejeitou o Cristo. A Igreja, com isso, não está condenando o povo judeu, pelo contrário, ela diz que a humanidade toda rejeitou Jesus. E, então, Ele pergunta: "Popule meus, quid feci tibi? Responde mihi." (Povo meu, que te fiz Eu, em que te contristei? Responda-me). É o Cristo que reclama. "Eu te dei o amor e recebi de volta o desamor", este é o mistério que se celebra na Sexta-feira Santa.
Da mesma forma que os impropérios são uma anamnese do caminho percorrido pelo povo eleito, toda a humanidade é convidada a fazer também a anamnese da própria vida, ou seja, a fazer a recordação da própria existência, vendo o quanto Deus cuidou de cada um desde a mais tenra idade.
O conteúdo dos "impropérios" leva à reflexão. Propicia o vislumbre da própria ingratidão para com Deus. Se o católico tem como centro da vida a ação de graças. A Sexta-feira Santa é o dia em que não se celebra a Eucaristia - ação de graças, por excelência - porque é o dia da ingratidão. Deus mostra de maneira inequívoca, pelas reprimendas, como a humanidade é ingrata. E, o que se pode responder diante disso? Pode-se confessar a fé, pode-se reconhecer que Deus é Santo, Deus é Forte, Deus é Imortal, enquanto cada um nada mais é do que pecador, fraco e mortal.